"Ser amado constitui a
verdade essencial de nossa existência."
Henri Nowen
Ao longo dos anos, tenho
percebido que as maiores armadilhas da vida não são o sucesso, o poder ou o
dinheiro como muitos afirmam, e sim a autorrejeição. A fama, a popularidade e o
sucesso são tentadoras. Igualmente, o poder e o dinheiro tem sua capacidade de
sedução. Todavia a origem dessa atração, na maior parte dos casos, está na
autorrejeição.
Por qual motivo alguém rejeitaria a si
mesmo?
Conta-se que certa vez um
homem marcou uma consulta com o renomado psicólogo Carl Jung por causa de sua
depressão crônica. O psicólogo disse ao homem que diminuísse seu período diário
de trabalho, fosse pra casa e passasse as noites em seu escritório sozinho.
Noite após noite, o homem se trancava no escritório e lia alguns bons livros ou
tocava algumas peças ao piano. Depois de semanas, não notou melhora, então
voltou queixoso ao doutor. Ao tomar conhecimento de como o homem passava o
tempo, Carl Jung disse: Você não entendeu. Não era para você passar seu tempo
na companhia de Mozart, Chopin, Herman Hesse ou Thomas Mann! Que queria você
completamente sozinho. Ao que o homem, espantado, respondeu: Não consigo pensar
em pior companhia que eu!
Se você já se inquietou em
ficar só, sem necessidade de distração com livros, música, televisão, cinema,
computador, pipoca, chocolate e outros, talvez seja hora de parar e examinar:
Gosto de mim? Aprecio verdadeiramente minha companhia? Sinto-me calmo, sem
nervosismo ou inquietação, quando estou só? E quando estou com outros, sinto
extrema necessidade de causar boa impressão, encantar ou chamar atenção para
mim? Eu me amo ou preciso da valorização e amor dos outros para me sentir bem
comigo mesmo?
Talvez você tenha crescido
ouvindo: “Você é um desastrado! Não vai
dar em nada! Não tem conserto para você! Retardado! Nunca vai aprender a fazer
as coisas direito?...”. Para ser “amado” e aceito, você vestiu sua máscara,
colocou sua fantasia e produziu um falso eu, que é admirado pela maioria,
escondendo aquilo que sabemos ou sentimos ser por trás de uma aparência para
ser mais agradável e agora se pergunta quem você realmente é. “Será que eu sou a máscara que eu uso?”,
você se pergunta.
“Os olhos dos dois se
abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para
cobrir-se.” Gênesis 3:7
Como Adão e Eva, ao ficarmos
apavorados por algum motivo, principalmente quando pecamos ou fazemos algo
inaceitável aos olhos de nossos pais, professores, amigos, a primeira coisa que
fazemos é nos cobrir. Por quê? Porque não gostamos do que vemos. É
desconfortável ou até mesmo insuportável, logo, com máscara e fantasia, não
enxergamos nem deixamos outros enxergarem quem somos sinceramente.
Entretanto o que acontece
quando negligenciamos o cuidado com a vida, cobrindo nossa carência,
frustrações, erros e defeitos para, erroneamente, nos tornamos dignos de amor?
Fato é que o amor das pessoas
é condicional. Pergunte à filha que foi expulsa de casa após engravidar ou à
esposa cujo marido pediu o divórcio após descobrir seus defeitos e não
conseguir conviver com ela por causa deles. Pergunte ao filho que foi severa e
injustamente punido por não tirar notas altas na escola, mesmo depois de passar
a tarde toda estudando enquanto seus irmãzinhos brincavam ou assistiam ao seu
programa favorito na televisão. Pergunte ao pai de família cuja falência
atingiu e o fez, de um dia para outro, um irreconhecível sujeito pobre, sem
casa, sem carro, sem emprego, sem bens e quase (ainda resta uma dúvida) sem
família.
“Louvado
seja Deus, que não rejeitou a minha oração nem afastou de mim o seu amor!”
Salmos 66:20
Não é assim com Deus: Ele não nos ama apenas quando estamos bem ou
as coisas vão bem para nós. Ele também nos ama em nossos momentos de carência e
prostração. Ele nos ama quando vencemos, conquistamos, enriquecemos e
quando perdemos tudo, fracassamos e desmoronamos. Ele nos ama quando estamos
animados com Ele e quando estamos desanimados e fracos na fé. Ele nos ama e se
alegra conosco. Ele nos ama e se compadece de nós.
Precisamos compreender que
ainda que os homens nos rejeitem e mesmo que nós mesmos não nos amemos e
aceitemos de verdade, Deus não nutre o mesmo sentimento a nosso respeito. Como
humanos temos um amor muito falho, contudo o amor de Deus é perfeito. Enquanto
não entendermos isso, involuntariamente, projetaremos em Deus as atitudes e
sentimentos que alimentamos por nós mesmos, o que é, na verdade, um modo de
idolatria. Enquanto não enxergarmos,
aceitarmos e nos arrependermos de nossa condição egoísta, autossuficiente e ao
mesmo tempo dependente do amor dos outros, não estaremos prontos para receber o
mais sublime, completo e suficiente amor de Deus. Ele nos ama e valoriza como
ninguém e apenas quando recebemos Seu amor total, curados e transformados,
poderemos nos amar e aprender amar ao próximo.
“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor.
Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.”
I João 4:16
Belo texto, Pri!
ResponderExcluirÉ. muito edificante! ^^
ResponderExcluir