sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Trechos impactantes do livro da Elisabeth Elliot

"Deus é Deus. Se Ele é Deus, merece minha adoração e meu serviço. Não encontro paz em nenhum lugar a não ser na vontade de Deus, e Sua vontade está infinita, imensurável e indizivelmente acima de meus conceitos mais profundos do que Ele intenciona fazer.

É nesse contexto que o evento tem de ser entendido - como um acontecimento na história da humanidade. Acontecimento importante de certa maneira e importante para algumas pessoas, mas apenas um acontecimento. Deus é o Deus da história humana e Ele trabalha de modo contínuo e misterioso, realizando Seus propósitos eternos em nós, por nós e através de nós.

Existe sempre a tendência de simplificar, de avaliar com interpretações que não podem jamais cobrir todos os detalhes nem sobreviver a uma inspeção apurada. Sabemos, por exemplo, que, na história da igreja cristã, o sangue dos mártires foi derramado muitas vezes. Assim, somos tentados a pressupor uma equação simples aqui: Cinco homens morreram. Isso significa que um número tal de Waorani se tornarão cristãos.

Talvez sim. Talvez não. Causa e efeito estão nas mãos de Deus. Não faz parte da fé simplesmente deixar que eles descansem lá? Deus é Deus. Se eu exigir que Ele aja de modo a satisfazer minha ideia de justiça, estarei destronando-O. Este é o mesmo espírito que provocou a frase: 'Se és filho de Deus, desce da cruz.' Existe descrença, e até mesmo rebelião, no comportamento que afirma: 'Deus não tinha o direito de fazer isso com os cinco homens, a não ser...'.

Acredito de todo o coração que a História de Deus tem um final feliz... Mas não agora, não necessariamente agora. É preciso fé para se manter firme diante do grande fardo da experiência, que parece provar o contrário. O que Deus quis dizer com felicidade e bondade é muito mais elevado do que podemos imaginar...

Resumindo, na história Waorani, como em outras histórias, somos consolados desde que não examinemos muito de perto o acontecimento desgostoso. Com essa evasão, continuamos prontos a falar do trabalho como NOSSO, a nos apropriarmos de qualquer coisa que traga sucesso e a negar todo fracasso.

A fé mais saudável busca um ponto de referência longe da experiência humana, a estrela-do-norte que marca o curso dos eventos humanos, não esquecendo aquele impenetrável mistério da interação da vontade de Deus com a do homem (p. ex., 'Jesus não realizou muitos milagres ali, por causa da incredulidade do povo'; 'Jesus foi entregue pelo conselho determinado'...).

No entanto, somos pecadores. E somos fanfarrões. Lembro-me de uma vez no instituto bíblico quando quase caí na risada no meio de uma oração. Depois de uma longa reunião na qual um aluno após o outro confessava seus pecados, reais ou imaginários, nosso diretor, L. E. Maxwell, levantou-se e trovejou: 'Ó Senhor, liberta-nos de nosso triste, doce e fedorento eu!'.

Não devemos depender de nosso nível espiritual. É só em Deus e nada menos do que Deus que nos firmamos, pois a obra é de Deus, o chamado é de Deus e tudo é realizado por Ele e Seus propósitos: o cenário todo, a confusão toda, o pacote todo - nossa coragem e nossa covardia, nosso amor e nosso egoísmo, nossas forças e nossas fraquezas. O Deus que conseguiu tomar um assassino igual a Moisés e um adúltero igual a Davi e um traidor igual a Pedro e transformá-los em Seus servos é um Deus que também pode salvar indígenas selvagens, usando como Seus instrumentos de paz um conglomerado de pecadores que às vezes parecem heróis e às vezes vilões, pois 'temos [...] esse tesouro em vasos de barro, para que o poder extraordinário seja de Deus e não nosso'. ( II Co 4:7).

Nem sempre sabemos onde o horizonte se situa. Se não fosse pela bruxuleante luz no oceano branco, não saberíamos onde termina o céu e onde começa o mar. Aquele que lançou o fundamento da terra e traçou suas dimensões sabe onde as linhas são desenhadas. Ele oferece toda a claridade de que precisamos para confiar e obedecer."

Elisabeth Elliot,
trechos do livro Através dos portais do esplendor.