“Pare comigo por um instante e considere o seguinte: o
corpo – o rosto, as formas, a cor – contém marcas que nos identificam como
indivíduos. Essas marcas vêm do nosso DNA e nos tornam reconhecíveis para os
outros; são a impressão de Deus em cada um de nós. Essas poucas características
alcançam possibilidades infinitas quando rearranjadas em diferentes formas e
tamanhos.
Ser capaz de aceitar o prodígio e o milagre da própria
personalidade, ainda que imperfeita ou ‘acidental’, e confiá-la às mãos de quem
a fez, é uma das grandes conquistas na vida. Seu ‘número de registro’ está em
você. Seu DNA tem importância porque a essência de quem você é importa, e quem
você é, conforme o que foi planejado importa. Cada pequena característica e
‘contingência’ da sua personalidade é importante. Considere o DNA a impressão
soberana de Deus em você.”
Ravi Racharias
Quem somos não é individual. Não nascemos do nada e de ninguém. Fomos criados
por Deus e gerados por nossos pais. Nosso DNA importa. A história de nossos
pais importa. O local onde nascemos importa. Nossa vida não é isolada. Fazemos
parte de uma teia de histórias. Somos parte de nossa família, de nossa cidade,
de nossa nação. Sendo assim, quem somos nós? Quem é você? Quem sou eu?
Meu nome é Priscilla Rocha Chaves. Sou filha do Davi e da Mirian. Irmã do David
Hudson e João Marcos. Neta do Pedro e da Marciana, do Levy e da Maria. Mais
conhecida como Pri de Luz, pois nasci e vivi e maior parte de minha vida na
cidade de Luz, Minas Gerais, Brasil. Sou brasileira, mineira, luzense, filha,
irmã, pessoa... De onde vim? De que legado sou parte?
Vamos
começar com a história da minha cidade, pra você entender o contexto em que
cresci, vivo (enquanto escrevo essa reflexão) e como tudo começou: A história
da cidade de Luz começa com dois fazendeiros: Camargos e Cocais que brigaram
feio. As esposas desses dois homens resolvem construir um altar para “N.
S. da Luz” (daí o nome da cidade ser Luz) para que eles parassem de
brigar. Onde foi construído esse altar, depois foi construída a primeira igreja
católica, que existe até hoje, chamada de Santuário.
Luz
se tornou sede de bispado da igreja católica. Aqui tem um palácio (literalmente)
onde o bispo mora. Luz
foi a primeira cidade do Brasil a ser emancipada, porque o bispo em pessoa
conversou com o presidente da República, e pediu que fizesse daqui uma cidade,
já que aqui era sede de bispado e não era ainda cidade. Grande parte das casas
foram construídas pela Mitra (um tipo de conselho da igreja católica) há muito
tempo atrás. Luz também é a primeira cidade do Brasil onde se teve Rodeio de
peão (apesar de hoje, os rodeios de cidades como Uberaba, Barretos e outras,
serem muito mais conhecidos e frequentados).
Como
o Evangelho chegou a Luz se aqui não deixavam entrar "protestantes"
e muito menos viver gente “crente”? Um primo do meu pai, Alcides,
ganhou uma Bíblia e lendo a Bíblia seus olhos se abriram e ele enxergou muitas
coisas na Bíblia, em sua vida e na cidade que não condiziam com o que a Palavra
de Deus ensina e uma briga foi comprada (assim como Martinho Lutero).
Infelizmente ele morreu novo, mas a semente ficou. Uma de suas filhas (Adélia)
casou-se com pastor e juntos pastoreiam uma igreja na zona rural da cidade de
Brasília até hoje.
Meu
avô Pedro, pai do meu pai, aprendeu a ler lendo a Bíblia e construiu uma das
primeiras igrejas evangélicas da cidade de Luz, lá na fazenda. E quando o
Alcides morreu, como não queriam deixar enterrar ele no cemitério da cidade,
tiveram que usar da “influência” que tinham para que o bispo, que amaldiçoou um
pedaço do cemitério para enterrar os crentes, deixasse que ele fosse enterrado.
Mas as igrejas evangélicas aqui
sempre passaram por lutas e problemas. E em sua maioria nunca cresceram. Todas
tem uma frequência bem pequena de membros. Eu cresci numa igreja com poucas
pessoas e é assim até hoje. Nossa igreja atualmente tem uma frequência de 7 a
10 pessoas por culto.
Quando
era mais nova, eu passava de casa em casa chamando as crianças para ir na
escola bíblica, que eu organizava e contava histórias, fazia brincadeiras e
dava um lanchinho. Os padres e professoras de catequese passavam na porta da
igreja e anotavam o nome das crianças, iam de casa em casa e diziam para os
pais que se os filhos continuassem indo lá, eles seriam excomungados. Na outra
semana, nenhum pai deixava mais eu levar o filho deles. Hoje, muitas dessas
crianças são prostitutas, traficantes, ou estão no homossexualismo,
lesbianismo, mas a tradição católica é tão forte que, na maioria das vezes, a
família prefere seus filhos em qualquer lugar, longe dos crentes! Muita gente
(são inúmeras histórias) já foi na igreja, aos prantos, com overdose, separando
no casamento, e precisando de ajuda, mas não voltou por causa da pressão da
família (eles nos contam, até com receio de serem ouvidos e pagarem por isso,
como se tivessem fazendo algo errado em conversar conosco)...
Minha
mãe, Mirian, nascida em Santa Bárbara do Oeste/SP (meu pai é quem é natural de
Luz), fez seminário e com 19 anos foi chamada pra trabalhar em Luz como
missionária da Igreja Presbiteriana. Aqui ela conheceu meu pai, se casou e por
aqui ficou. Dediquei o primeiro livro desta série, o Graça por graça,
à minha mãe. Por quê? Por sua perseverança em uma obra aparentemente sem
resultados (você pastorearia uma igreja por mais de 30 anos, com uma frequência
tão pequena e em um ambiente cultural não tão recíproco ao Evangelho?). Por seu
amor a Deus, acima de todas as coisas. Pela mulher de Deus e de fé que ela é.
Se
hoje sou filha de Deus, reconheço, devo grande parte disso ao fato de ser filha
de minha mãe, devo parte à história do Evangelho em Luz que chegou por meio da
obra de Deus na vida e na família do meu pai. Aliás, se você quer conhecer mais
sobre como a Bíblia, sozinha, sem missionários, trouxe a “primeira conversão”
em Luz, há um livro chamado “Sozinha”, escrito por Miguel
Rizzo Jr. (publicação autônoma), que conta a história de um modo bem
detalhado.
Essa
sou eu, a Pri de Luz, parte de um legado cristão, do qual tenho a
alegria, privilégio e responsabilidade de ser parte e levar adiante. E você,
quem é? Qual é a sua história?
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