quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Sou parte de um legado

“Pare comigo por um instante e considere o seguinte: o corpo – o rosto, as formas, a cor – contém marcas que nos identificam como indivíduos. Essas marcas vêm do nosso DNA e nos tornam reconhecíveis para os outros; são a impressão de Deus em cada um de nós. Essas poucas características alcançam possibilidades infinitas quando rearranjadas em diferentes formas e tamanhos.

Ser capaz de aceitar o prodígio e o milagre da própria personalidade, ainda que imperfeita ou ‘acidental’, e confiá-la às mãos de quem a fez, é uma das grandes conquistas na vida. Seu ‘número de registro’ está em você. Seu DNA tem importância porque a essência de quem você é importa, e quem você é, conforme o que foi planejado importa. Cada pequena característica e ‘contingência’ da sua personalidade é importante. Considere o DNA a impressão soberana de Deus em você.”

Ravi Racharias

            Quem somos não é individual. Não nascemos do nada e de ninguém. Fomos criados por Deus e gerados por nossos pais. Nosso DNA importa. A história de nossos pais importa. O local onde nascemos importa. Nossa vida não é isolada. Fazemos parte de uma teia de histórias. Somos parte de nossa família, de nossa cidade, de nossa nação. Sendo assim, quem somos nós? Quem é você? Quem sou eu?

            Meu nome é Priscilla Rocha Chaves. Sou filha do Davi e da Mirian. Irmã do David Hudson e João Marcos. Neta do Pedro e da Marciana, do Levy e da Maria. Mais conhecida como Pri de Luz, pois nasci e vivi e maior parte de minha vida na cidade de Luz, Minas Gerais, Brasil. Sou brasileira, mineira, luzense, filha, irmã, pessoa... De onde vim? De que legado sou parte?

Vamos começar com a história da minha cidade, pra você entender o contexto em que cresci, vivo (enquanto escrevo essa reflexão) e como tudo começou: A história da cidade de Luz começa com dois fazendeiros: Camargos e Cocais que brigaram feio. As esposas desses dois homens resolvem construir um altar para “N. S. da Luz” (daí o nome da cidade ser Luz) para que eles parassem de brigar. Onde foi construído esse altar, depois foi construída a primeira igreja católica, que existe até hoje, chamada de Santuário.

            Luz se tornou sede de bispado da igreja católica. Aqui tem um palácio (literalmente) onde o bispo mora. Luz foi a primeira cidade do Brasil a ser emancipada, porque o bispo em pessoa conversou com o presidente da República, e pediu que fizesse daqui uma cidade, já que aqui era sede de bispado e não era ainda cidade. Grande parte das casas foram construídas pela Mitra (um tipo de conselho da igreja católica) há muito tempo atrás. Luz também é a primeira cidade do Brasil onde se teve Rodeio de peão (apesar de hoje, os rodeios de cidades como Uberaba, Barretos e outras, serem muito mais conhecidos e frequentados).

            Como o Evangelho chegou a Luz se aqui não deixavam entrar "protestantes" e muito menos viver gente “crente”? Um primo do meu pai, Alcides, ganhou uma Bíblia e lendo a Bíblia seus olhos se abriram e ele enxergou muitas coisas na Bíblia, em sua vida e na cidade que não condiziam com o que a Palavra de Deus ensina e uma briga foi comprada (assim como Martinho Lutero). Infelizmente ele morreu novo, mas a semente ficou. Uma de suas filhas (Adélia) casou-se com pastor e juntos pastoreiam uma igreja na zona rural da cidade de Brasília até hoje.

Meu avô Pedro, pai do meu pai, aprendeu a ler lendo a Bíblia e construiu uma das primeiras igrejas evangélicas da cidade de Luz, lá na fazenda. E quando o Alcides morreu, como não queriam deixar enterrar ele no cemitério da cidade, tiveram que usar da “influência” que tinham para que o bispo, que amaldiçoou um pedaço do cemitério para enterrar os crentes, deixasse que ele fosse enterrado.
Mas as igrejas evangélicas aqui sempre passaram por lutas e problemas. E em sua maioria nunca cresceram. Todas tem uma frequência bem pequena de membros. Eu cresci numa igreja com poucas pessoas e é assim até hoje. Nossa igreja atualmente tem uma frequência de 7 a 10 pessoas por culto.
Quando era mais nova, eu passava de casa em casa chamando as crianças para ir na escola bíblica, que eu organizava e contava histórias, fazia brincadeiras e dava um lanchinho. Os padres e professoras de catequese passavam na porta da igreja e anotavam o nome das crianças, iam de casa em casa e diziam para os pais que se os filhos continuassem indo lá, eles seriam excomungados. Na outra semana, nenhum pai deixava mais eu levar o filho deles. Hoje, muitas dessas crianças são prostitutas, traficantes, ou estão no homossexualismo, lesbianismo, mas a tradição católica é tão forte que, na maioria das vezes, a família prefere seus filhos em qualquer lugar, longe dos crentes! Muita gente (são inúmeras histórias) já foi na igreja, aos prantos, com overdose, separando no casamento, e precisando de ajuda, mas não voltou por causa da pressão da família (eles nos contam, até com receio de serem ouvidos e pagarem por isso, como se tivessem fazendo algo errado em conversar conosco)...

Minha mãe, Mirian, nascida em Santa Bárbara do Oeste/SP (meu pai é quem é natural de Luz), fez seminário e com 19 anos foi chamada pra trabalhar em Luz como missionária da Igreja Presbiteriana. Aqui ela conheceu meu pai, se casou e por aqui ficou. Dediquei o primeiro livro desta série, o Graça por graça, à minha mãe. Por quê? Por sua perseverança em uma obra aparentemente sem resultados (você pastorearia uma igreja por mais de 30 anos, com uma frequência tão pequena e em um ambiente cultural não tão recíproco ao Evangelho?). Por seu amor a Deus, acima de todas as coisas. Pela mulher de Deus e de fé que ela é.

Se hoje sou filha de Deus, reconheço, devo grande parte disso ao fato de ser filha de minha mãe, devo parte à história do Evangelho em Luz que chegou por meio da obra de Deus na vida e na família do meu pai. Aliás, se você quer conhecer mais sobre como a Bíblia, sozinha, sem missionários, trouxe a “primeira conversão” em Luz, há um livro chamado “Sozinha”, escrito por Miguel Rizzo Jr. (publicação autônoma), que conta a história de um modo bem detalhado.


Essa sou eu, a Pri de Luz, parte de um legado cristão, do qual tenho a alegria, privilégio e responsabilidade de ser parte e levar adiante. E você, quem é? Qual é a sua história?

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