“Todas as manhãs Joana visitava seu Luiz para lhe
fazer uma xícara de café. Seu Luiz tinha 89 anos, morava sozinho e gostava
muito das visitas da querida e doce Joana.
Por volta das 7 horas, ela batia na porta e ele com uma voz fraca e rouca respondia permitindo sua entrada. Seu Luiz acordava muito cedo desde que ficara sozinho, com a perda de sua amada Ana, não via muitos motivos pra ficar na cama. Dormindo sonhava com ela e amanhecia em lágrimas de saudades. Acordado lembrava dos pezinhos gelados que ela encostava nas suas pernas pedindo pra que ele esquentasse. A cama, então, já não lhe proporcionava prazer algum. Preferia levantar.
A doce Joana entrava, lhe dava um beijo na testa e preparava o café. A casa ficava com cheiro de lar e ele adorava aquilo. Sentia-se novamente feliz.
Ela sentava num banquinho próximo à cadeira de balanço dele e ouvia suas histórias. Cada dia ele contava uma, que durava aproximadamente dez minutos. Depois disso ela lhe dava outro beijo na testa e se despedia. Ia pra escola.
Ela completou então 17 anos. Ele agora com 95, mas ainda tinham o que conversar. O velho Luiz estava cada vez mais fraquinho, no entanto parecia ter uma energia quase nunca vista em pessoas com tão avançada idade.
- Doce Joana, disse ele, a vida é uma só minha querida. E ela passa tão rápido. Às vezes tenho a impressão que foi ontem que conheci minha Ana. Ela tinha cabelos claros e olhos bem escuros. Um sorriso tão lindo que me fazia esquecer qualquer problema deste mundo. Quando a pedi em casamento ela chorou e aquilo foi assustador para mim. Mas ela me disse que era o coração dela derretido saindo pelos olhos para ir ao meu encontro. E sorriu. (Ela adorava fazer poesia com a vida). E eu também sorri. Ela disse “sim”. Nesta época eu tinha 39 anos. Não a conheci na juventude. Sofri muito até encontrá-la. Mas sei que ela chegou quando eu estava pronto e lapidado para poder cuidar da minha Ana. Vivemos 40 anos juntos. E foram dias de profunda felicidade por conhecer o amor. Por viver com o amor. Alguns momentos foram muito difíceis, mas ela sempre segurava na minha mão e dizia que tudo ficaria bem. Eu sabia que não era simples assim, mas a voz dela me acalmava. No dia que ela partiu ela segurou na minha mão e falou que tudo iria ficar bem. Mas eu sabia que jamais a ouviria falar aquilo outra vez. No mesmo instante, beijei o rosto da minha Ana e falei que ela tinha feito minha vida ficar bem desde que a conheci e que a amaria todos os dias da minha vida. Minutos depois ela partiu. A sensação que tive era de que meu coração havia partido junto com o dela.
Sabe, querida Joana, um amor pode ser muito real
se aprendermos que somos capazes de amar. Ele nunca vem pronto, nós o
preparamos todos os dias. Assim como o café que você prepara para mim todas as
manhãs. E quando preparado ele exala um aroma tão inconfundível que sabemos,
ali, naquele lugar, tem amor. Não deixe os problemas desta vida impedirem você
de reconhecer este aroma.
E Seu Luiz sentia saudades do aroma de amor que sua Ana exalava na sua vida."
Scheila Azevedo Hinnah
(foi
ela quem prefaciou meu livro Em essência
:D )
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