“Nossos vizinhos da pequena casa ao lado eram
terríveis. Além de mexeriqueiros e maledicentes, também eram barulhentos e
briguentos. Os filhos tinham o hábito de apropriar-se dos bens alheios – uma
forma gentil de dizer que não passavam de um bando de delinquentes juvenis.
Coletivamente, eram um espinho na carne da vizinhança.
Perto de nosso terreno e fazendo sombra na janela da
cozinha deles, havia um pessegueiro tão maltratado como nunca se viu. Quando
chegava a primavera, a velha árvore retorcida conseguia, com grande esforço,
reunir todas as suas forças para produzir algumas folhas e algumas flores. Na
época apropriada, as flores transformavam-se em minúsculos pêssegos verdes e
duros que nunca chegavam a amadurecer. Os pêssegos só serviam para uma coisa –
ser atirados longe. E você pode adivinhar quem os atirava e onde... sempre
tinha sido assim. A árvore era tão improdutiva que mamãe decidiu cortá-la e
colocar flores em seu lugar.
Não demorou muito para que sua decisão chegasse aos
ouvidos dos vizinhos. Eles pediram a ela que não cortasse a árvores, porque
aquela era a única que havia para dar sombra à sua cozinha. A cozinha tinha
teto plano e ficava exposta ao Sol inclemente de Illinois. Seria uma cena
tentadora ver aqueles malandros sufocando no calor da cozinha... Havia até uma
certa justiça poética nisso; eles nos irritavam com tanta frequência que
poderíamos ser induzidos a ver um elemento profético naquela situação. Mas
mamãe era cristã e acreditava que devia agir como tal. Ela disse:
- Claro que vou deixar a árvore lá.
E foi o que ela fez.
Quando a primavera chegou naquele ano, uma coisa
maravilhosa aconteceu com aquela árvore. Os velhos galhos secos desapareceram e
começaram a florescer. As flores transformaram-se em nossos velhos e conhecidos
pêssegos – pequenininhos, verdes e duros – e, depois, maravilha das maravilhas,
amadureceram e tornaram-se frutos doces e deliciosos.
Saboreamos todos os pêssegos que pudemos. Mamãe
distribuiu alguns aos vizinhos, inclusive aos desagradáveis, e preparou vidros
de conserva em quantidade suficiente para durar até o ano seguinte.
Depois de alguns meses, os vizinhos mudaram-se dali.
Não estou sugerindo que haja qualquer relação entre o que aconteceu, estou
apenas relatando os fatos. Bem, eles se mudaram, e naquele ano, ou no seguinte,
a árvore morreu.
A árvore nunca havia produzido bons frutos antes; e
nunca mais voltou a produzi-los: foi só naquele ano. Sei que alguns de vocês
estão pensando – a árvore teria produzido frutos mesmo que mamãe não tivesse
sido tão bondosa; deve ter havido algo em relação ao clima naquele ano ou a
algum elemento químico agindo de modo especial. Não sei porque aquilo
aconteceu; não estou afirmando nada. Mas de uma coisa eu sei: se ela tivesse
retribuído o mal com mal, nada teria acontecido, porque não haveria árvore, e
um menino teria perdido uma bela experiência e uma das lições mais profundas de
sua vida.
Mamãe teve a oportunidade de revidar, mas, ao
contrário, semeou amor e recebeu como recompensa uma maravilhosa colheita.
Houve a colheita da árvore, mas também houve uma colheita no coração dela, no
meu e no de muitas outras pessoas.”
Gladys Hunt
Fonte: Histórias para o coração da mulher,
Organizado por Alice Gray
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