Recentemente conheci a história do notável Dominique
Voillaume de Saint-Remy, um homem humilde, temente a Deus, que viveu sua vida
na companhia dos conhecidos como Irmãozinhos de Jesus, monges que entendiam o
discipulado como um modo de vida contemplativa e sem clausura entre os pobres,
tendo os dias dedicados ao trabalho e as noites envoltas em oração e silêncio.
Ler sobre esse homem levou-me a um estado de constrangimento a respeito da vida
cristã que eu venho levando. Ainda bem que a
tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não ao
remorso (II Co 7:9), o que me
dá a esperança de saber que posso mudar. O que mais me admira nesse homem é que
ele não vivia para impressionar ninguém nem ficava constantemente se
perguntando se sua vida era útil ou se seu testemunho significava alguma coisa.
Ele jamais sentiu que tinha que fazer algo grandioso ou grande para Deus! Simplesmente
acordava todas as manhãs e trabalhava penosamente para ganhar muito menos que
um salário mínimo e quando, aos 54 anos, descobriu que estava morrendo com um
câncer incurável, pediu permissão aos líderes de sua comunidade e mudou-se para
a vizinhança pobre de Paris para trabalhar como vigia noturno. Todas as manhãs,
quando saia do trabalho, ele ia para um parque que ficava próximo à sua casa e
conversava com marginais, alcoólatras, andarilhos, prostitutas e com quem mais
quisesse um pouco de atenção e amor. Certa manhã, ele não foi ao parque e os
homens ficaram preocupados. Encontraram-no morto em sua simples quitinete.
Depois de sua morte, seu diário foi encontrado e sabe qual
foi a última coisa que ele escreveu?
"Tudo o que não é amor de Deus não tem sentido para
mim.
Posso honestamente dizer que não tenho interesse em coisa
alguma que não seja o amor de Deus que está em Cristo Jesus.
Se Deus quiser, minha vida será útil pela minha palavra e
meu testemunho.
Se Ele quiser, minha vida dará fruto por meio de minhas
orações e sacrifícios.
Mas a utilidade de minha vida é preocupação dEle, não
minha.
Seria indecente de minha parte preocupar-me com isso."
Esta é uma afirmação singela, poderosa e assombrosa.
Quem, em nossos dias, pode dizer que não se importa com
nada mais que o amor de Deus?
Quem, em nossa geração, afirma sinceramente não se
preocupar com a utilidade e o resultado de seu trabalho e de sua vida?
Quem, ao nosso redor, mesmo dentro da comunidade cristã
confessa verdadeiramente não estar vivendo para impressionar?
A resposta deveria ser o verdadeiro cristão, porém mesmo
nós que confessamos conhecer e seguir os passos de Jesus tantas vezes nos
encontramos absortos pelo mundo, o sistema que jaz no Maligno, e nos perdemos
em falsas identidades e realidades que só nos afastam do Caminho! Desviamo-nos
e perdemos a nós mesmos numa vida de busca por prazer, felicidade, aceitação,
reconhecimento e sentido, esquecendo que a satisfação, a realização e o
propósito da vida se concretizam no amor de Deus, que além de saciar,
transborda alcançando o próximo.
“Porque somos
criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais
Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.”
Efésios 2:10
“Ele se entregou
por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo
particularmente seu, dedicado à prática de boas obras.”
Tito 2:14
Dominique Voillaume entendeu que o amor de Deus é completo
em si mesmo e traz a plenitude que a vida exige para cada um de nós, dando
sentido, propósito e finalidade em si. Nada mais interessa. Nada mais importa.
Nada mais nos motiva em verdade a uma vida que nos alcança e se estende ao
próximo.
Se o nosso trabalho será reconhecido e recompensado?
Se nossa vida fará sentido e fará notável diferença?
Como diz nosso amigo Dominique: "a utilidade
de minha vida é preocupação dEle, não minha. Seria indecente de minha
parte preocupar-me com isso."