“Quantos de nós já ouvimos
ABA exposto como a pronúncia infantil das palavras ‘pa-pa’ ou ‘papai’? Esse
brado, entretanto, no contexto das Escrituras, não é uma pronúncia infantil. O
brado ABA é um grito. Esse brado não é tanto o som de um bebê olhando para o
pai e rindo, quanto é o som de uma criança gritando: ‘Papai!’ – quando atacada
por um buldogue furioso. Trata-se da teologia do brado essencial.
De todos os aspectos
perturbadores do orfanato no qual encontramos nossos meninos (o autor e a
esposa adotaram 2 meninos), um se sobressai em horror. Era silencioso. No lugar
havia um silêncio sinistro, mais quieto que a Biblioteca do Congresso, apesar
de haver berços cheios de bebês em cada cômodo. Se você prestasse atenção, poderia
ouvir o som de um balanço suave – os bebês balançando a si próprios, em seus
berços. Eles não choravam, porque ninguém respondia a seu choro. Então paravam.
Isso é desumano, em seu horror.
É mediante esse tipo de
oração (ABA) que sabemos que recebemos o ‘espírito de adoção’ (Rm 8:15). Por
meio dessa oração que ‘o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros’ (Rm
8:16-17). Às vezes essa passagem confunde os crentes porque supomos que isso
signifique existir um lembrete interno assegurando-nos de que realmente somos
filhos de Deus. Supomos que isso signifique um tipo de paz em nosso coração, a
tranquilidade da segurança. Na verdade, trata-se do contrário.
Paradoxalmente, a Bíblia fala
de nossa adoção em Cristo como um acontecimento passado, mas também como um
acontecimento futuro. ‘Gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos’,
Paulo escreveu; e ele nos disse a que isso se assemelha: à ‘redenção do nosso
corpo’ (Rm 8:23). Legalmente pertencemos a nosso Pai. Porém, enquanto nossos
corpos estão morrendo, e o universo ofega em dores ao nosso redor, com certeza
parece que ainda somos órfãos. Por fé sabemos que somos filhos, ainda não o
sabemos por vista.
Certa vez, durante um
encontro com vários amigos, parei de ouvir a pessoa que falava comigo e curvei
a cabeça para ouvir uma conversa que outro homem (muito mais velho e sábio)
mantinha com outros. Ele falava de antigos padrões judeus de oração e de como
eles são diferentes dos padrões contemporâneos. Os primeiros cristãos judeus,
nossos antepassados, ele disse, raramente oravam em silêncio e com a cabeça
baixa. Em vez disso, oravam em voz alta, com os braços estirados em direção ao
céu. Sabemos disso por meio das Escrituras do Antigo Testamento, assim como da
arte cristã primitiva.
Eu sabia disso, mas o que me
deu arrepios foi a caracterização feita por aquele senhor a respeito desse
ponto de vista. Ele ficou de pé com os braços levantados e perguntou: ‘Isso não
parece com uma criança dando seus primeiros passos, em quase qualquer cultura
humana, clamando a seus pais que lhe deem comida ou atenção?’. Ele continuou: ‘Isso
também não é cruciforme? Como foi que nosso Senhor Jesus teria clamado: ‘Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?’. Não foi com braços estendidos ao céu,
como uma criança faz com seu pai?”
Russell D. Moore,
Em “Adoção, Sua extrema
prioridade para famílias e igrejas”,
Trechos das páginas 75 à 80.
Super recomendo a leitura
deste livro!