quinta-feira, 5 de maio de 2016

Semeando amor

“Nossos vizinhos da pequena casa ao lado eram terríveis. Além de mexeriqueiros e maledicentes, também eram barulhentos e briguentos. Os filhos tinham o hábito de apropriar-se dos bens alheios – uma forma gentil de dizer que não passavam de um bando de delinquentes juvenis. Coletivamente, eram um espinho na carne da vizinhança.

Perto de nosso terreno e fazendo sombra na janela da cozinha deles, havia um pessegueiro tão maltratado como nunca se viu. Quando chegava a primavera, a velha árvore retorcida conseguia, com grande esforço, reunir todas as suas forças para produzir algumas folhas e algumas flores. Na época apropriada, as flores transformavam-se em minúsculos pêssegos verdes e duros que nunca chegavam a amadurecer. Os pêssegos só serviam para uma coisa – ser atirados longe. E você pode adivinhar quem os atirava e onde... sempre tinha sido assim. A árvore era tão improdutiva que mamãe decidiu cortá-la e colocar flores em seu lugar.

Não demorou muito para que sua decisão chegasse aos ouvidos dos vizinhos. Eles pediram a ela que não cortasse a árvores, porque aquela era a única que havia para dar sombra à sua cozinha. A cozinha tinha teto plano e ficava exposta ao Sol inclemente de Illinois. Seria uma cena tentadora ver aqueles malandros sufocando no calor da cozinha... Havia até uma certa justiça poética nisso; eles nos irritavam com tanta frequência que poderíamos ser induzidos a ver um elemento profético naquela situação. Mas mamãe era cristã e acreditava que devia agir como tal. Ela disse:

- Claro que vou deixar a árvore lá.

E foi o que ela fez.

Quando a primavera chegou naquele ano, uma coisa maravilhosa aconteceu com aquela árvore. Os velhos galhos secos desapareceram e começaram a florescer. As flores transformaram-se em nossos velhos e conhecidos pêssegos – pequenininhos, verdes e duros – e, depois, maravilha das maravilhas, amadureceram e tornaram-se frutos doces e deliciosos.

Saboreamos todos os pêssegos que pudemos. Mamãe distribuiu alguns aos vizinhos, inclusive aos desagradáveis, e preparou vidros de conserva em quantidade suficiente para durar até o ano seguinte.

Depois de alguns meses, os vizinhos mudaram-se dali. Não estou sugerindo que haja qualquer relação entre o que aconteceu, estou apenas relatando os fatos. Bem, eles se mudaram, e naquele ano, ou no seguinte, a árvore morreu.

A árvore nunca havia produzido bons frutos antes; e nunca mais voltou a produzi-los: foi só naquele ano. Sei que alguns de vocês estão pensando – a árvore teria produzido frutos mesmo que mamãe não tivesse sido tão bondosa; deve ter havido algo em relação ao clima naquele ano ou a algum elemento químico agindo de modo especial. Não sei porque aquilo aconteceu; não estou afirmando nada. Mas de uma coisa eu sei: se ela tivesse retribuído o mal com mal, nada teria acontecido, porque não haveria árvore, e um menino teria perdido uma bela experiência e uma das lições mais profundas de sua vida.

Mamãe teve a oportunidade de revidar, mas, ao contrário, semeou amor e recebeu como recompensa uma maravilhosa colheita. Houve a colheita da árvore, mas também houve uma colheita no coração dela, no meu e no de muitas outras pessoas.”

Gladys Hunt

Fonte: Histórias para o coração da mulher,

Organizado por Alice Gray

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