quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Em memória de Ana



Hoje eu acordei com uma saudade absurda da "Tia" Ana, mãe da minha amiga Zakia. Sabe quando, do nada, você começa a pensar em alguém e as lembranças jorram como um rio impetuoso em sua mente? Pois é...

Lembro-me de quando tinha apenas 4 anos de idade. Minha mãe me levava e a mãe da Zakia a levava ao psicólogo, pois nós fazemos aniversário "no meio do ano", e consequentemente ou entrávamos adiantadas ou atrasadas em relação às outras crianças no ano letivo. Nossas mães decidiram que o melhor era que entrássemos adiantadas, todavia fez-se necessário alguns testes e um breve acompanhamento com profissional. Haha, recordo-me dos testes, aparentemente idiotas, a que éramos submetidas: Andar em cima da linha no chão, desenhar uma pessoa, identificar cores, formas, etc.

Recordo-me de quando estava com uns 12 anos de idade. A tia Ana ajudava seu marido, Ismail, na grande loja de "cama, mesa e banho" que eles tinham. Toda vez que eu passava em frente à loja ela me chamava para entrar e conversar rapidinho e dava atenção para mim, como se eu fosse a pessoa mais querida e importante do mundo. Perdi a conta de quantas vezes me encontrava triste e fazia questão de passar em frente à loja, só para receber o sorriso da tia Ana e o seu amor inegável e puro por mim.

Amava fazer trabalho escolar na casa da Zakia (não que eu não gostasse de trazer meus colegas para fazer trabalho em minha casa). A tia Ana e a Zakia sempre preparavam uma mesa farta, que pra uma mente infantil mais parecia um banquete, o que de fato era: um banquete de amor que deixou marcas eternas, não somente em mim, mas em todas as crianças que tiveram o privilégio de desse banquete um dia provar.

A Zakia e eu fomos da mesma sala por uma longa época escolar, mas por um bom tempo estivemos separadas, tanto por sala, quanto por convivência. Crescemos e de certo modo, as circunstâncias, o coração e a vida nos distanciaram.

Depois que terminei meu curso superior em Belo Horizonte, escolhi voltar para Luz e morar por mais um tempo com meus pais. Senti-me deslocada, como seu não mais pertencesse a esse local, a essa cidade, ainda que tenha nascido e crescido aqui, entretanto faltavam-me raízes de amor. Certa tarde, passeava eu pelo centro comercial e quando me dei conta já estava subindo as escadas para o segundo andar, em cima da antiga loja, onde morava a tia Ana.

Agora com 19 anos, não mais uma criança, mas ainda muito carente, outra vez o amor da tia Ana me atraiu para sua casa.. Foram dias preciosos em que pude desfrutar de uma boa conversa e uma deliciosa comida árabe, que só ela sabia fazer com tanto amor e carinho, exalando sabores e cores, bálsamo e cura.

Em seus últimos anos de vida tive o privilégio de poder conversar bastante com ela em seu quarto. Falávamos sobre tudo: a vida, Deus, amores, roupas, comidas, livros, histórias... Ela me contava as dela e ouvia as minhas. Não com indiferença, não com impaciência, apenas com interesse e amor!

Certa vez escolhemos um livro da minha estante, intitulado Histórias para o coração, de Alice Gray, para desfrutarmos juntas. E todas as tardes, por volta das 18:30, eu passava em sua casa e lia uma história (o livro contem mais de 100).
Infelizmente não conseguimos terminar essa leitura, porque o Pai a chamou para si e nos deixou carentes e saudosos de sua nobre, estimada e tão preciosa presença física. Acho que ela foi fazer companhia para Enoque...

“E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.” Gênesis 5:24

Não posso mais provar da sua comida, não posso mais ouvir sua voz, não posso mais sentir sua mão calorosa a me tocar com carinho, mas posso agradecer a Deus pelo privilégio de tê-la conhecido e com ela convivido. Além do mais posso escrever sobre ela (o que de fato o faço), não para imortalizá-la (imortal ela é e sempre será), mas sim para compartilhar com você um pouquinho do amor que dela recebi. E que amor é esse? Um amor que vale a pena!

Um comentário:

  1. Bem, espero que meu bisavô viva por muito tempo. Sempre gostei de conversar com ele sobre o cotidiano. Pena ele ter ido morar tão longe neste momento que há um embate cabeça x coração dentro de mim.

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