sábado, 21 de dezembro de 2013

Amado e valorizado





"Ser amado constitui a verdade essencial de nossa existência." 
Henri Nowen

Ao longo dos anos, tenho percebido que as maiores armadilhas da vida não são o sucesso, o poder ou o dinheiro como muitos afirmam, e sim a autorrejeição. A fama, a popularidade e o sucesso são tentadoras. Igualmente, o poder e o dinheiro tem sua capacidade de sedução. Todavia a origem dessa atração, na maior parte dos casos, está na autorrejeição.

Por qual motivo alguém rejeitaria a si mesmo?  

Conta-se que certa vez um homem marcou uma consulta com o renomado psicólogo Carl Jung por causa de sua depressão crônica. O psicólogo disse ao homem que diminuísse seu período diário de trabalho, fosse pra casa e passasse as noites em seu escritório sozinho. Noite após noite, o homem se trancava no escritório e lia alguns bons livros ou tocava algumas peças ao piano. Depois de semanas, não notou melhora, então voltou queixoso ao doutor. Ao tomar conhecimento de como o homem passava o tempo, Carl Jung disse: Você não entendeu. Não era para você passar seu tempo na companhia de Mozart, Chopin, Herman Hesse ou Thomas Mann! Que queria você completamente sozinho. Ao que o homem, espantado, respondeu: Não consigo pensar em pior companhia que eu!

Se você já se inquietou em ficar só, sem necessidade de distração com livros, música, televisão, cinema, computador, pipoca, chocolate e outros, talvez seja hora de parar e examinar: Gosto de mim? Aprecio verdadeiramente minha companhia? Sinto-me calmo, sem nervosismo ou inquietação, quando estou só? E quando estou com outros, sinto extrema necessidade de causar boa impressão, encantar ou chamar atenção para mim? Eu me amo ou preciso da valorização e amor dos outros para me sentir bem comigo mesmo?

Talvez você tenha crescido ouvindo: “Você é um desastrado! Não vai dar em nada! Não tem conserto para você! Retardado! Nunca vai aprender a fazer as coisas direito?...”. Para ser “amado” e aceito, você vestiu sua máscara, colocou sua fantasia e produziu um falso eu, que é admirado pela maioria, escondendo aquilo que sabemos ou sentimos ser por trás de uma aparência para ser mais agradável e agora se pergunta quem você realmente é. “Será que eu sou a máscara que eu uso?”, você se pergunta.

“Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.” Gênesis 3:7

Como Adão e Eva, ao ficarmos apavorados por algum motivo, principalmente quando pecamos ou fazemos algo inaceitável aos olhos de nossos pais, professores, amigos, a primeira coisa que fazemos é nos cobrir. Por quê? Porque não gostamos do que vemos. É desconfortável ou até mesmo insuportável, logo, com máscara e fantasia, não enxergamos nem deixamos outros enxergarem quem somos sinceramente.

Entretanto o que acontece quando negligenciamos o cuidado com a vida, cobrindo nossa carência, frustrações, erros e defeitos para, erroneamente, nos tornamos dignos de amor?

Fato é que o amor das pessoas é condicional. Pergunte à filha que foi expulsa de casa após engravidar ou à esposa cujo marido pediu o divórcio após descobrir seus defeitos e não conseguir conviver com ela por causa deles. Pergunte ao filho que foi severa e injustamente punido por não tirar notas altas na escola, mesmo depois de passar a tarde toda estudando enquanto seus irmãzinhos brincavam ou assistiam ao seu programa favorito na televisão. Pergunte ao pai de família cuja falência atingiu e o fez, de um dia para outro, um irreconhecível sujeito pobre, sem casa, sem carro, sem emprego, sem bens e quase (ainda resta uma dúvida) sem família.

“Louvado seja Deus, que não rejeitou a minha oração nem afastou de mim o seu amor!” Salmos 66:20

Não é assim com Deus: Ele não nos ama apenas quando estamos bem ou as coisas vão bem para nós. Ele também nos ama em nossos momentos de carência e prostração. Ele nos ama quando vencemos, conquistamos, enriquecemos e quando perdemos tudo, fracassamos e desmoronamos. Ele nos ama quando estamos animados com Ele e quando estamos desanimados e fracos na fé. Ele nos ama e se alegra conosco. Ele nos ama e se compadece de nós.

Precisamos compreender que ainda que os homens nos rejeitem e mesmo que nós mesmos não nos amemos e aceitemos de verdade, Deus não nutre o mesmo sentimento a nosso respeito. Como humanos temos um amor muito falho, contudo o amor de Deus é perfeito. Enquanto não entendermos isso, involuntariamente, projetaremos em Deus as atitudes e sentimentos que alimentamos por nós mesmos, o que é, na verdade, um modo de idolatria. Enquanto não enxergarmos, aceitarmos e nos arrependermos de nossa condição egoísta, autossuficiente e ao mesmo tempo dependente do amor dos outros, não estaremos prontos para receber o mais sublime, completo e suficiente amor de Deus. Ele nos ama e valoriza como ninguém e apenas quando recebemos Seu amor total, curados e transformados, poderemos nos amar e aprender amar ao próximo.

“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.” I João 4:16

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